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Perfil psicomotor de crianças institucionalizadas no município de Uruguaiana, RS
Psychomotor profile of institutionalized children in the city of Uruguaiana, RS

Perfil psicomotor de niños y niñas institucionalizadas en el municipio de Uruguaiana, RS

 

*Docente da Universidade Federal do Pampa (UNIPAMPA) – Campus Uruguaiana – RS

**Fisioterapeuta graduada pela Universidade Federal do Pampa (UNIPAMPA) – Campus Uruguaiana – RS

***Fisioterapeuta da Universidade Federal do Pampa (UNIPAMPA) – Campus Uruguaiana – RS

****Mestranda do Programa de Pós Graduação em Gerontologia Biomédica – PUCRS

(Brasil)

Eloá Maria dos Santos Chiquetti*

Larissa Oliveira Santos**

Douglas Ramos Prietsch***

Veronica Jocasta Casarotto****

veronica_casarotto@hotmail.com

 

 

 

 

Resumo

          O desenvolvimento dos componentes da motricidade está relacionado à interação de diversos fatores, dentre eles, aspectos biológicos ou ambientais. O ambiente positivo age como facilitador do desenvolvimento normal, pois possibilita a exploração e interação com o meio. Entretanto, o ambiente desfavorável lentifica o ritmo de desenvolvimento e restringe as possibilidades de aprendizado da criança. O objetivo da pesquisa foi caracterizar o perfil psicomotor de crianças de 2 a 11 anos de idade, acolhidas em uma instituição municipal de ação social de um município gaúcho, utilizando a Escala de Desenvolvimento Motor. Foram avaliadas pela Escala de Desenvolvimento Motor, 17 crianças de 2 a 11 anos de idade, de ambos os sexos, acolhidas por uma instituição municipal. Essa escala compreende testes motores para motricidade fina, motricidade global, equilíbrio, esquema corporal, organização espacial e organização temporal. Entre as crianças avaliadas 88,2% apresentaram atraso motor em rela­ção à Idade Cronológica e 11,7% apresentaram avanço motor em relação à Idade Cronológica. Conclusões: De modo geral o desenvolvimento motor das crianças avaliadas encontra-se em Normal Baixo, de acordo com a classificação da Escala de Desenvolvimento Motor, verificado pela média do Quociente Motor Geral.

          Unitermos: Fisioterapia. Desenvolvimento infantil. Avaliação.

 

Abstract

          The development of motor components is related to the interaction of various factors, including, biological or environmental. The positive environment acts as a facilitator of normal development because it enables the exploration and interaction with the environment. However, the unfavorable environment slows the pace of development and restricts the child's learning possibilities. The objective of the research was to characterize the psychomotor profile of children 2-11 years old, accepted in a municipal institution of social action of a gaucho municipality, using the Motor Development Scale. They were evaluated by the Motor Development Scale, 17 children 2-11 years of age, of both sexes, welcomed by a municipal institution. This range comprises motor tests for fine motor skills, overall motor skills, balance, body scheme, spatial organization and temporal organization. Among the children evaluated 88.2% had delayed motor relation to Chronological Age and 11.7% had motor improvement over the chronological age. Conclusion: Overall development of the engine is evaluated in children Normal Low, according to the classification of Motor Development Scale, indicated by the average of the quotient General Motor.

          Keywords: Physiotherapy. Child development. Evaluation.

 

Resumen

          El desarrollo de los componentes de la motricidad está relacionado con la interacción de varios factores, incluyendo los aspectos biológicos o ambientales. El ambiente positivo actúa como facilitador del desarrollo normal, ya que permite la exploración y la interacción con el medio ambiente. Sin embargo, el entorno desfavorable ralentiza el ritmo de desarrollo y restringe las oportunidades de aprendizaje del niño. El objetivo de la investigación fue caracterizar el perfil psicomotor de niños 2 a 11 años de edad, que viven en una institución municipal de acción social de un municipio del Sur de Brasil, utilizando la Escala de Desarrollo Motriz. Fueron evaluados por la Escala de Desarrollo Motriz, 17 niños de 2 a 11 años de edad, de ambos sexos que viven en una institución municipal. Esta escala comprende pruebas motrices para las habilidades motoras finas, habilidades motoras generales, equilibrio, esquema corporal, organización espacial y organización temporal. Entre los niños evaluados el 88,2% presenta retraso motriz en relación a la edad cronológica y el 11,7% supera su motricidad con respecto a la edad cronológica. Conclusiones: A nivel general, el desarrollo motriz de los niños y niñas evaluados se encuentra en Normal Bajo, según la clasificación de la Escala de Desarrollo Motriz, verificado por el promedio del cociente Motriz General.

          Palabras clave: Fisioterapia. Desarrollo del niño. Evaluación.

 

Recepção: 27/01/2016 - Aceitação: 13/04/2017

 

1ª Revisão: 22/03/2017 - 2ª Revisão: 09/04/2017

 

 
Lecturas: Educación Física y Deportes, Revista Digital. Buenos Aires, Año 22, Nº 227, Abril de 2017. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    O desenvolvimento motor é considerado como um processo seqüencial, contínuo e relacionado à idade cronológica, pelo qual o ser humano adquire uma enorme quantidade de habilidades motoras, as quais progridem de movimentos simples e desorganizados para a execução de habilidades motoras altamente organizadas e complexas (Haywood & Getchell, 2004).

    Inicialmente, acreditava-se que as mudanças no comportamento motor refletiam diretamente as alterações maturacionais do sistema nervoso central. Hoje, porém, sabe-se que o processo de desenvolvimento ocorre de maneira dinâmica e é suscetível a ser moldado a partir de inúmeros estímulos externos (Willrich ; Azevedo e Fernandes, 2009).

    Segundo Rosa Neto et al (2007) o desenvolvimento dos componentes da motricidade está relacionado à interação de diversos fatores, dentre eles, aspectos biológicos ou ambientais . Além disso, o desenvolvimento infantil pode estar relacionados com a oportunidade de prática de atividades motoras e fatores alimentares, além do tempo excessivo gasto somente com jogos televisivos, além de fatores como ausência do pai, depressão materna, baixa escolaridade dos pais e nível sócio-econômico baixo (Gallahue e Ozmun, 2005; Medina-Papst e Marques, 2010).

    O desenvolvimento motor é influenciado tanto pela maturação como pela experiência. O ambiente positivo age como facilitador do desenvolvimento normal, pois possibilita a exploração e interação com o meio. Entretanto, o ambiente desfavorável lentifica o ritmo de desenvolvimento e restringe as possibilidades de aprendizado da criança. Nesse sentido, os ambientes institucionais têm sido descritos como locais de influência negativa (Castanho, 2005), pois frequentemente apresentam problemas como superlotação, pessoal pouco qualificado e espaço reduzido (Alexandre e Vieira, 2004). Paralelamente aos fatores de risco biológicos, as desvantagens ambientais podem influenciar negativamente a evolução do desenvolvimento das crianças (Torquato et al, 2011).

    A família proporciona para a criança um ambiente de carinho, amor, segurança, proteção, e também valores, religião, além de condições materiais, lazer, passeios, existe o apoio emocional. Todo este suporte proporciona a criança um desenvolvimento saudável. Desta forma, o contexto ou ambiente em que as crianças estão inseridas e as exigências das tarefas propostas têm grande influência na aquisição de novas habilidades (Silveira e Wachholz, 2006).

    No caso de privação materna, seja este afastamento de ordem física ou emocional, muitas são as conseqüências, tanto de ordem física quanto intelectual e social, podendo, inclusive, protagonizar o aparecimento de enfermidades físicas e mentais. Desta forma, uma criança que tem pais afetivos e vive em um lar bem-estruturado, no qual encontra conforto e proteção, consegue desenvolver um sentimento de segurança e confiança em si mesma e em relação àqueles que convivem com ela. Do contrário, se uma criança cresce em situação irregular (afastada da vida familiar), pressupõe-se que sua base de segurança tende a desaparecer, o que pode prejudicar suas relações com os outros, havendo, assim, prejuízos nas demais funções de seu desenvolvimento (Alexandre e Vieira, 2004).

    Pode-se perceber que há uma preocupação interdisciplinar quanto à detecção precoce das dificuldades escolares, avaliação do nível de desenvolvimento da criança e a necessidade de proposta de intervenção com atividades adequadas, almejando resultados benéficos ao aprendiz e que tendem a reduzir problemas e maiores transtornos futuros nos anos escolares, pois os atrasos motores freqüentemente associam-se a prejuízos secundários de ordem psicológica e social, como baixa autoestima, isolamento, hiperatividade, entre outros, que dificultam a socialização de crianças e o seu desempenho escolar podendo se prolongar até a fase adulta. Portanto, a rápida inserção da criança em um programa de acompanhamento destaca maior chance de obter êxito nas tarefas futuras, de forma a evitar a retenção escolar.

    Para Rosa Neto (2002) a avaliação motora torna-se um importante instrumento que favorece o conhecimento de dados relacionados ao desenvolvimento motor da criança e sugere estratégias de integração de atividades relacionadas às necessidades específicas de cada uma. Os testes de avaliação do desenvolvimento motor utilizam critérios de seleção variados, como a idade da criança e a área a ser avaliada (força muscular, motricidade fina, motricidade ampla, fala, ou avaliação abrangente das capacidades funcionais) e agem facilitando o planejamento e formas de intervenção.

    A figura dos pais torna-se importante no desenvolvimento da criança no que diz respeito ao afeto e na presença de estímulos, ao contrário com a carência desses podem surgir prejuízos no desenvolvimento neuropsicomotor. A institucionalização de crianças nos tempos atuais é um fenômeno complexo, sendo reflexo da situação econômica em que se encontra o país, onde tantas famílias vivem em situação de extrema miséria. A desagregação familiar, o acesso às drogas e a violência, também contribuem para o desenvolvimento desse cenário, sendo relevante conhecer e entender como se constitui o desenvolvimento infantil nas crianças em situação de abrigo e definir como a fisioterapia pode atuar para minimizar os efeitos negativos da institucionalização nesse desenvolvimento.

    O objetivo deste estudo foi de caracterizar o perfil psicomotor de crianças de 2 a 11 anos de idade, de ambos os sexos, acolhidas em uma instituição municipal de ação social que abriga crianças e adolescentes no município de Uruguaiana – RS, utilizando a Escala de Desenvolvimento Motor proposta por Rosa Neto (2002).

Procedimentos metodológicos

    Participaram do estudo 17 crianças de 2 a 11 anos, de ambos os sexos, acolhidas há mais de seis meses por uma instituição municipal de ação social que abriga crianças e adolescentes, no município de Uruguaiana. O responsável pelas crianças formalizou o aceite por meio da leitura e assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), conforme a resolução nº. 196/96 do Conselho Nacional de Saúde.

    Foram excluídas do estudo crianças que apresentassem síndromes ou déficits neurológicos, deficiência ou limitação motora e crianças que não aceitassem realizar os testes. As crianças, sendo menores de 18 anos, assinaram um termo de assentimento concordando em participar do estudo, e as crianças não alfabetizadas foi solicitado a um monitor da instituição que fizesse a leitura do termo, questionando a criança sobre a sua aceitação em participar da pesquisa. Quatro crianças se recusaram a realizar os testes. Durante o período destinado à avaliação, nove crianças voltaram para casa, portanto foram excluídas do estudo.

    Como instrumento de coleta de dados utilizou-se a Escala de Desenvolvimento Motor (Rosa Neto, 2002), no qual é possível avaliar o desempenho motor das crianças. Essa Escala compreende testes motores nos seguintes componentes: 1) Motricidade fina (IM1); 2) Motricidade global (IM2); 3) Equilíbrio (IM3); 4) Esquema corporal (IM4); 5) Organização espacial (IM5); 6) Organização temporal (IM6).

    Os testes foram aplicados de acordo com a idade cronológica da criança, partindo-se de uma idade inferior. Se a prova foi concluída com êxito, o resultado é positivo registrado com o número 1 (um), senão é negativo registrado com 0 (zero) e se a prova exigir os dois membros, direito e esquerdo, e for completada somente com um, será registrado ½. Quando a criança não obtivesse êxito na primeira tentativa, recorria-se às tarefas pertinentes às idades anteriores até a obtenção de sucesso pela criança.

    Ao final da aplicação, dependendo do desempenho individual em cada bateria, é atribuída a criança uma determinada Idade Motora, em cada uma das áreas referidas anteriormente, sendo após, calculada a idade motora geral (IMG) e o quociente motor geral (QMG) da criança. Esses valores foram quantificados e categorizados, permitindo classificar as habilidades analisadas em padrões: muito superior (130 ou mais), superior (120-129), normal alto (110- 119), normal médio (90-109), normal baixo (80-89), inferior (70-79) e muito inferior (69 ou menos).

    As avaliações foram realizadas individualmente por um avaliador previamente treinado na própria instituição e o tempo médio de aplicação dos testes foi de 35 minutos. Foi recomendado às crianças o uso de roupas que não dificultassem os movimentos durante os testes.

Análise dos dados

    Os dados foram apresentados como média e desvio padrão. A idade motora geral (IMG) foi obtida a partir média dos resultados. Cada Quociente Motor foi obtido pela razão entre a Idade Motora correspondente e a Idade Cronológica, sendo o resultado multiplicado por 100 (Ex.: QM1= IM1/IC x 100). O Quociente Motor Geral foi calculado a partir da razão entre a Idade Motora Geral e Idade Cronológica, sendo o resultado multiplicado por 100 (Ex.: QMG: IMG/IC x 100). A Idade Positiva ou Idade Negativa foi obtida pela diferença entre a Idade Motora Geral e a Idade Cronológica. Os valores foram positivos quando a Idade Motora Geral apresentou valor superior a Idade Cronológica e negativa quando a Idade Motora Geral apresentou valor inferior a Idade Cronológica.

    Para análise dos resultados foi empregado o teste de correlação de Pearson para analisar a associação entre idade cronológica e cada idade motora. O nível de significância adotado para todas as análises foi de p < 0,05.

Resultados

    Das 17 crianças avaliadas 29,4% (n=5) eram do sexo masculino e 70,5% (n=12) eram do sexo feminino. A idade variou entre 3 anos e 5 meses (41 meses) e 11 anos e 11 meses (143 meses).

    De acordo com a classificação da Escala de Desenvolvimento Motor (EDM), 52,94% (n=9) das crianças avaliadas apresentaram índices de Normal Baixo, seguido da classificação Normal Médio, com 17,64% (n=3). De modo geral, 23,52% das crianças (n=4) atingiram índices de classificação abaixo da normalidade, registra­dos na classificação Inferior 17,64% (n=3) e Muito inferior 5,88% (n=1), conforme Tabela 1. Os resultados são encontrados na Tabela 2. Em relação às características de desenvolvimento psicomotor das 17 crianças avaliadas, verifica-se que a idade cronológica média foi de 102,4 meses e a idade motora geral de 88,4 meses.

Tabela 1. Ocorrência e percentual dos resultados obtidos na Escala de Desenvolvimento Motor em 17 crianças institucionalizadas e relação com QMG

 

Tabela 2. Média e desvio padrão dos indicadores do perfil motor geral dos indivíduos avaliados

    Do total de crianças avaliadas, 88,2% (n=15) apresentaram atraso motor em rela­ção à Idade Cronológica (Idade Negativa), e 11,7% (n=2) apresentaram avanço motor em relação à Idade Cronológica (Idade Positiva).

    Em relação ao QMG das crianças avaliadas, obteve-se o valor médio de 86,8, indicando a classificação Normal baixo.

    Na avaliação da lateralidade, evidenciou-se que 76,3% (n= 13) crianças possuem lateralidade definida, no entanto, com preferência lateral variada. Destes, 29,4% (n=5) apresentaram preferência lateral direita – caracterizado como destro-completo (mãos, olhos, pés); 5,8% (n=1) apresentaram preferência lateral esquerda (sinistro-completo) e 41,1% (n=7), apresentaram lateralidade cruzada (escrevem com a mão esquerda e chutam com o pé direito, por exemplo). A lateralidade foi indefinida em 23,5% (n=4) das crianças avaliadas.

    A análise de correlação linear de Pearson revelou forte correlação entre as variáveis Idade Cronológica e Idade Motora dos participantes para motricidade fina (r = 0,90); motricidade global (r = 0,92); equilíbrio (r = 0,85); esquema corporal (r = 0,91); organização espacial (r = 0,73); e organização temporal (r= 0,75) todos com p considerado extremamente significativo, sendo motricidade fina p< 0.0001 (Figura 1), motricidade global p< 0.0001 (Figura 2), equilíbrio p< 0.0001, esquema corporal p< 0.0001 (Figura 3), organização espacial p=0.0007 e organização temporal p=0.0005, considerando p<0,05.

    Os resultados, apresentados pelas médias e desvios-padrão para cada componente da motricidade, sugerem que com o aumento da IC ocorre um aumento da IM, ou seja, que com o aumento da IC os indivíduos são capazes de realizar tarefas mais complexas. Desta mesma forma, isso é demonstrado quando IC é correlacionada com IM, apresentando resultados estatisticamente significativos.

Discussão

    Através da análise dos resultados obtidos, constatou-se que com o aumento da IC ocorre um aumento da IM, ou seja, com o aumento da IC os indivíduos são capazes de realizar tarefas mais complexas. Concordando com a atual pesquisa Rosa Neto et al (2010) afirmam que há uma crescente linearidade dos valores médios das idades motoras com relação ao aumento da idade cronológica, à medida que a criança vai crescendo (aumentando sua idade cronológica), paralelamente aumenta também o seu nível de desenvolvimento motor.

    Silveira (2005) relacionando a idade motora com a idade cronológica de crianças (pré-escolares) encontrou significância entre Idade Cronológica e Idade Motora dos participantes para motricidade fina (r=0,759); motricidade global (r=0,709); equilíbrio (r=0,653); esquema corporal (r=0,764); e organização espacial (r=0,737), tais resultados concordam com este estudo que apresentou forte correlação entre as variáveis IC e IM dos participantes para motricidade fina (r=0,90); motricidade global (r=0,92); equilíbrio (r=0,85); esquema corporal (r=0,91); e organização espacial (r=0,73).

    No intuito de se reconhecer o perfil psicomotor dos indivíduos avaliados, é possível observar na Tabela 2 que a média da IC de todas as crianças é de 102,4 meses e sua IMG é de 88,4 meses, apresentando uma diferença de 14 meses. Percebe-se que os maiores déficits encontrados neste estudo têm estreita ligação com a capacidade co­ordenativa ampla (equilíbrio, esquema corporal, organização espacial e organização temporal), mostrando um QM3, QM4, QM5 e QM6 com médias entre 71 e 85 meses, tendo como resultado inferior e normal baixo, o que sugere a necessidade de ênfase em atividades que aprimorem esses aspectos motores.

    Segundo Rosa Neto (2002), a idade motora representa a média da capacidade individual da criança em todas as habilidades motoras e deve corresponder à idade cronológica. Ao avaliar a Idade Negativa das crianças deste estudo, percebe-se que os resultados apresentam uma média de atraso motor de 16,3 meses. Os dados corroboram com o estudo de Rosa Neto et al. (2007), que avaliaram crianças com indicadores de dificuldades na aprendizagem escolar e iden­tificaram grande parte das mesmas com déficit entre a Idade Cronológica e a Idade Motora Geral, totalizando uma média de atraso de 16 meses.

    Para Rosa Neto (2002) a lateralidade é a preferência da utilização de uma das partes simétricas do corpo: mão, olho, ouvido, perna; a lateralização cortical é a especialidade de um dos dois hemisférios quanto ao tratamento da informação sensorial ou quanto ao controle de certas funções. A lateralidade constitui um processo essencial às relações entre a motricidade e a organização psíquica intersensorial. Representa a conscientização integrada e simbolicamente interiorizada dos dois lados do corpo, lado esquerdo e lado direito, o que pressupõe a noção da linha média do corpo. Desse radar vão decorrer, então, as relações de orientação face aos objetos, às imagens e aos símbolos, razão pela qual a lateralização vai interferir nas aprendizagens escolares de uma maneira decisiva.

    Os resultados apresentados referentes à lateralidade aponta uma predominância na lateralidade cruzada (41,1%) e na lateralidade definida como destro completo (29,4%). Estes mesmos dados são encontrados nos estudos realizados por Rosa Neto (1996) e Rodrigues (2000) que mostram uma predominância da lateralidade destra completa e cruzada.

    Para Andraca (1998), um ambiente carente em estímulos pode atrasar o ritmo de desenvolvimento, o que diminuiria a qualidade de interação da criança com o seu meio, restringindo sua capacidade de aprendizagem. O desenvolvimento infantil é influenciado por fatores intrínsecos e extrínsecos. O ambiente em que vivemos a alimentação, o espaço para os jogos e brincadeiras, a oportunidade de socialização e a educação formal através da escola, dentre outros, constituem elementos que participarão do desenvolvimento da criança. Portanto, os atrasos encontrados nesse estudo podem ser causados por fatores de risco ambientais. As instituições de abrigo têm sido frequentemente cita­das como locais de impacto negativo para o desenvol­vimento psicomotor. Dificuldades nas relações so­ciais, insegurança, ansiedade, problemas de conduta, déficit de atenção e hiperatividade são descritos como possíveis danos para a saúde de crianças instituciona­lizadas.

    A identificação de desvios do desenvolvimento motor e a intervenção precoce sobre o mesmo são fundamentais para o prognóstico de crianças que apresentam algum distúrbio no desenvolvimento, e a rápida inserção da criança em um programa de acompanhamento destacam maiores chances de obter êxito nas tarefas futuras, de forma a evitar a retenção escolar.

Conclusão

    De modo geral o desenvolvimento motor das crianças avaliadas encontra-se em Normal Baixo, de acordo com a classificação da Escala de Desenvolvimento Motor, verificado pela média do QMG. Considerando os maiores atrasos nas áreas de organização temporal, equilíbrio e esquema corporal, por apresentarem os menores QM, fica evidente a necessidade de inclusão de tarefas que auxiliem no desenvol­vimento desses componentes motores.

    Dessa forma, sugere-se que estudos mais amplos possam analisar os aspectos do desenvolvimento infantil, contribuindo em última instância para a realização pessoal da criança e aceitação social.

Bibliografia

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EFDeportes.com, Revista Digital · Año 22 · N° 227 | Buenos Aires, Abril de 2017
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