efdeportes.com

Postura de bailarinas: uma análise através da biofotogrametria computadorizada

Posture of ballet dancers: a analysis through photogrammetry computerized

Postura de bailarinas: un análisis por medio de la biofotogrametría computarizada

 

*Fisioterapeuta do Centro Universitário

de Patos de Minas - UNIPAM

**Docente do Centro Universitário

de Patos de Minas - UNIPAM

(Brasil)

Ana Paula Ribeiro Machado*

anapaula.ribeiromachado@yahoo.com

Danyane Simão Gomes**

danyanesg@hotmail.com

 

 

 

 

Resumo

          Introdução: O balé é capaz de promover modificações anatômicas, biomecânicas, morfológicas e físicas que podem desestabilizar o equilíbrio funcional dos praticantes ao longo dos anos de prática, facilitando o aparecimento de alterações posturais. Objetivo: verificar se existem diferenças significativas entre a postura de meninas praticantes de balé clássico e meninas sedentárias. Material e métodos: Tratou-se de um estudo transversal, analítico e comparativo, com 30 sujeitos do sexo feminino com média de idade de13 anos, as quais foram divididas em dois grupos: Grupo 1- composto por 15 bailarinas e Grupo 2- composto por 15 sedentárias. Foi aplicado um questionário de identificação para ambos os grupos. Para o Grupo 2 (meninas sedentárias), aplicou-se um questionário validado voltado à estimativa do nível de prática habitual de atividade física proposto por Baecke. Para a avaliação postural, as voluntárias foram submetidas a um registro fotográfico no plano anterior, posterior e perfil direito. As imagens foram transferidas para um computador no qual foi realizada a digitalização por meio da Biofotogrametria Computadorizada e analisadas através do aplicativo AutoCAD ® 2011. Foi realizada a estatística descritiva e utilizado os testes Shapiro-Wilk e Teste U de Mann Whitney (p<0,05). Resultados e discussão: Verificou-se alterações posturais em ambos os grupos, entretanto, esses desalinhamentos foram mais suaves no grupo das bailarinas. Houve relevância estatística entre os grupos somente em relação ao aumento das curvaturas cervical e torácica, e predisposição ao joelho varo no grupo de bailarinas. Conclusão: Não se pode afirmar que as bailarinas apresentam alterações posturais relevantes se comparadas às sedentárias, pois os 3 ângulos analisados por si só, não configuram alterações significantes.

          Unitermos: Balé. Biofotogrametria computadorizada. Postura.

 

Abstract

          Introduction: The ballet is able to promote anatomical, biomechanical, morphological and physical modifications that may destabilize the functional balance of the practitioners throughout the years of practice, making easier the appearance of postural alterations. Objective: To check if there is a significant differences between the girls postures who participates on classic ballet and sedentary girls. Materials and methods: It was a cross-section study, analytical and comparative, with 30 female subject with the age of 13 which were divided in two groups: group 1- composed with 15 (ballet dancers) and group 2- composed with 15 sedentary girls. It were applied a identifications questionary for both groups. For the group 2 (sedentary girls), it was applied a validated questionary facing the estimated level of physical habitual practice proposed by Baecke. For postural evaluation, the voluntaries were subjected to a photographic record in the previous plan, rear and right profile. The images were transformers to a computer in which were performed the digitalization through computed photogrammetry and analyzes through the application AutoCAD ® 2011. It was performed descriptive statistic and used tests Shapiro-Wilk and tests U of Mann Whitney (p<0,05). Results and discussion: It was check postural alterations in both groups, however, these misalignments were softer in the ballet dancers. There was statistical relevance between the groups, only in relation to the increase in cervical and thoracic curvatures and predisposition to the varus knee in the ballet dancers. Conclusion: It can't say that the ballet dancers presents significant postural alterations compared to sedentary, because the 3 angles it were analyzed itself, it doesn´t constitute significant alterations.

          Keywords: Ballet. Computed photogrammetry. Posture.

 

Resumen

          Introducción: El ballet promueve cambios anatómicos, biomecánicos, físicos y morfológicos que pueden desestabilizar el equilibrio funcional de los profesionales durante los años de práctica, lo que facilita la aparición de cambios posturales. Objetivo: Determinar si existen diferencias significativas entre la posición de niñas que practican usualmente ballet clásico y niñas sedentarias. Material y métodos: Se realizó un corte transversal, analítico y comparativo con 30 sujetos femeninos con una edad promedio de 13 años de edad, que fueron divididos en dos grupos: Grupo 1 comprende 15 bailarinas y Grupo 2 consiste en 15 niñas sedentarias. Se aplicó un cuestionario de identificación para ambos grupos. Para el Grupo 2 (niñas sedentarias), se aplicó un cuestionario validado orientado a estimar el nivel de actividad física habitual propuesto por Baecke. Para la evaluación postural, los voluntarios fueron sometidos a un registro fotográfico en el plano anterior, posterior y el perfil derecho. Las imágenes se transfirieron a un equipo en el que la exploración se realizó mediante biofotogrametría computarizada y se analizó por AutoCAD® 2011. Se aplicó estadística descriptiva y se utilizó la prueba de Shapiro-Wilk y la prueba de Mann-Whitney U (p<0,05). Resultados y discusión: Se verificaron cambios posturales en ambos grupos; sin embargo, estos desajustes eran más suaves en el grupo de bailarinas. Fue estadísticamente significativa entre los grupos solamente con respecto al aumento de la curvatura cervical y torácica, y la predisposición a varo de la rodilla en el grupo de bailarinas. Conclusión: No podemos decir que las bailarinas presenten cambios posturales significativos en comparación con las niñas sedentarias, para los tres ángulos analizados por sí solo, no constituyen cambios significativos.

          Palabras clave: Ballet. Fotogrametría computarizado. Postura.

 

Recepção: 25/06/2016 - Aceitação: 12/04/2017

 

1ª Revisão: 26/03/2017 - 2ª Revisão: 09/04/2017

 

 
Lecturas: Educación Física y Deportes, Revista Digital. Buenos Aires, Año 22, Nº 227, Abril de 2017. http://www.efdeportes.com/

1 / 1

Introdução

    A formação de uma bailarina clássica deve ter início precocemente, pois ela necessita desenvolver amplamente habilidades físicas como força, flexibilidade, resistência, coordenação, velocidade e equilíbrio para um desempenho adequado (Fração et al., 1999). Desta forma, o balé é capaz de promover modificações anatômicas, biomecânicas, morfológicas e físicas que podem desestabilizar o equilíbrio funcional dos praticantes ao longo dos anos de prática, facilitando o aparecimento de alterações posturais (Picon et al., 2002).

    A maior parte dos movimentos utilizados no balé envolve amplitudes extremas e esforços musculares que podem ultrapassar o limite fisiológico. Isso gera estresse sobre o aparelho locomotor, sobrecarregando ossos, músculos, tendões e articulações, podendo assim, atuar como agente patológico (Picon e Franchi, 2007).

    Em geral, o hábito de manter o mau posicionamento ou movimento inadequado do corpo durante a prática do balé, torna-se a causa das alterações posturais compensatórias (Picon et al., 2002).

    Além disto, o balé clássico é uma atividade que utiliza a repetição de movimentos, buscando assim, a perfeição da técnica. Um dos fatores preocupantes é que apesar desta modalidade trabalhar o corpo bilateralmente, o praticante se limita a utilizar o lado dominante para uma melhor performance. Desta forma, os músculos se desenvolvem desarmonicamente aumentando a incidência de alterações posturais, principalmente quando na fase de desenvolvimento (Simas e Melo, 2000).

    Frente à alta prevalência de alterações posturais em bailarinas, verificou-se a necessidade de realizar o estudo para verificar as diferenças significativas entre posturas de meninas praticantes de balé clássico e meninas sedentárias, por meio da biofotogrametria computadorizada, que permite uma análise das alterações posturais fornecendo medidas, ângulos e quantificação das alterações encontradas.

Material e métodos

    Foi realizado um estudo com intervenção em caráter transversal, analítico e comparativo com abordagem quantitativa, realizado no Studio de dança ‘‘Kelly Loureiro’’ e Escola Estadual ‘‘Deiró Eunápio Borges’’ na cidade de Patos de Minas (MG). O estudo contou com 30 voluntárias do sexo feminino, com média de idade de 13 anos, as quais foram divididas em dois grupos: Grupo 1 - composto por 15 meninas bailarinas ativas com no mínimo 3 anos de balé clássico frequentes na escola de dança; e Grupo 2 - composto por 15 meninas sedentárias que não realizavam nenhum tipo de atividade física/ esportiva.

    Foram incluídas no estudo meninas com idade entre 10 a 15 anos hígidas. Foram escolhidas aleatoriamente e concordaram em participar da pesquisa mediante a assinatura pelos seus pais e/ou responsáveis legais do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, e assinatura do Termo de Assentimento, por parte das crianças/adolescentes no qual concordaram em participar do estudo. Foram excluídas de ambos os grupos, todas as crianças/adolescentes do sexo feminino que apresentavam antecedentes patológicos ortopédicos, neurológicos, e deficiência visual.

    O presente estudo foi submetido ao Comitê de Ética em Pesquisa do Centro Universitário de Patos de Minas - UNIPAM, sendo aprovado sob o protocolo de 1203397. Inicialmente foi aplicado um questionário de identificação composto por identificação pessoal, data de nascimento, idade, além de perguntas para identificação de possíveis alterações ortopédicas, neurológicas e deficiência visual, e para o Grupo 2 (meninas sedentárias), aplicou-se um questionário validado voltado à estimativa do nível de prática habitual de atividade física proposto por Baecke, Burema, Frijters (1982) - Baecke Questionnaire of Habitual Physical Activity (BQHPA). Este foi composto por 16 questões que abrangem três componentes da atividade física: as oito primeiras questões são referentes às atividades físicas ocupacionais ou na escola (AFO), as questões de nove a doze são referentes aos exercícios físicos praticados durante o tempo de lazer (EFL) e por fim da 13ª à 16ª questões são sobre atividades físicas realizadas no tempo de lazer e as atividades de locomoção (ALL), excluindo exercícios físicos.

    O questionário foi aplicado em grupos de quinze crianças dentro da sala de aula na própria escola. Cada participante recebeu uma folha correspondente ao questionário BAECKE, com instruções e recomendações para o seu preenchimento. Não foi estabelecido limite de tempo para o seu preenchimento e as eventuais dúvidas manifestadas foram prontamente esclarecidas. Para o cálculo do escore foram utilizadas as equações propostas por Baecke, Burema, Frijters (1982). As opções de respostas foram codificadas mediante uma escala Lickert de 5 pontos, com exceção da ocupação profissional / escola e da modalidade de esporte que pratica, quando foi o caso. Para determinação do escore total de atividade física habitual (AFH), somaram-se os escores de AFO, EFL e ALL.

    Em outro momento, iniciou-se a coleta de dados nas dependências do Studio de dança ‘‘Kelly Loureiro’’ e Escola Estadual ‘‘Deiró Eunápio Borges’’, no qual as voluntárias foram submetidas à avaliação postural, visando à observação do corpo na posição ortostática através de um registro fotográfico feita nos três planos do espaço: no plano frontal (anterior e posterior), perfil (sagital direito) e a utilização da linha gravitacional, com eixo imaginário de simetria dos segmentos corporais entre si e do corpo em relação ao espaço. Para isso, fizeram uso de trajes sumários (biquíni) e descalças posicionadas na postura padrão: calcanhares separados cerca de 7,5 cm e uma abdução do ante pé de aproximadamente 10 graus da linha média.

    A marcação dos pontos anatômicos foi realizada por meio de etiquetas auto adesivas branca, com cerca de 2 cm de diâmetro. Os pontos anatômicos referenciais para a recolha das imagens foram marcados pela mesma pesquisadora, por meio da anatomia palpatória. Os pontos demarcados de referência no plano anterior: (glabela, incisura jugular, processo xifóide, espinhas ilíacas ântero-superiores, centro das patelas e tuberosidades das tíbias); plano perfil direito (glabela, acrômio, C1, C4, C7, ápice da curvatura torácica, T12, L3 e L5, trocânter maior, cabeça da fíbula e maléolo lateral do tornozelo) e plano posterior (C7, T12, L5, ângulo inferior das escápulas). Desta forma, os ângulos analisados foram: plano anterior (simetria de cabeça, simetria pélvica, simetria de joelhos e ângulos quadricipitais); plano perfil direito (anteriorização de cabeça, curvaturas cervical, torácica e lombar e posicionamento de joelhos); e plano posterior (linha espondiléia e simetria de escápulas).

    Para o registro fotográfico utilizou-se uma câmera digital Nikon Coolpix L315, Semi Profissional com definição de 16 MPixel - Zoom Ótico 21x - Filme em HD, a qual foi posicionada paralelamente ao chão sobre um tripé nivelado, a uma altura de 100 cm do solo.

    A distância da câmera dependeu da voluntária de maior estatura. Sendo assim, a câmera foi posicionada sobre o tripé de forma que conseguisse capturar a imagem do corpo inteiro da voluntária, mantendo-se esta distância para as demais. Como a coleta dos dados ocorreu em mais de um dia, foi necessário garantir os mesmos locais para câmera, mantidos sem variação, permitindo, portanto, maior fidedignidade, método e constância a cada nova tomada das fotos. Após a coleta das imagens, estas foram transferidas para um computador no qual foi realizada a digitalização por meio da fotogrametria Computadorizada e analisadas através do aplicativo AUTOCAD 2013 ®.

    Após a coleta, os dados foram analisados e entabulados estatisticamente. Para verificar a normalidade dos dados, foi utilizado o teste Shapiro-Wilk comparando os ângulos posturais entre as meninas praticantes de balé clássico e meninas sedentárias. Verificando a existência ou não de diferenças, estatisticamente significantes, entre os resultados obtidos com os dois grupos, foi aplicado o teste U de Mann-Whitney. O nível de significância foi estabelecido em (p< 0,05), em um teste bilateral.

Resultados e discussão

    A amostra foi composta por 34 voluntárias, sendo 15 praticantes de balé clássico (Grupo I) e 19 sedentárias (Grupo II). O grupo I foi composto por voluntárias com idade entre 11 e 14 anos, média de 12 anos e 10 meses e mediana de 13 anos. No grupo II obteve-se voluntárias entre 12 e 15 anos, média 13 anos e 3 meses e mediana de 13 anos.

    De acordo com os critérios de exclusão, quatro voluntárias do grupo II foram retiradas da amostra, pois apresentavam antecedentes patológicos ortopédicos e as outras duas praticavam atividades físicas, compreendendo então uma amostragem final de 30 voluntárias.

    Na tabela 1, estão demonstrados os valores mínimos, valores máximos e medianas, relativos às medidas dos ângulos posturais das voluntárias do Grupo I e Grupo II.

Tabela 1. Valores mínimos, valores máximos e medianas, relativos às medidas dos ângulos posturais obtidas com as voluntárias dos Grupos I e II

    De acordo com os dados da Tabela 1, nota-se que na vista anterior, ambos os grupos apresentaram assimetrias de cabeça, de pelve e de joelhos, sendo as assimetrias mais pronunciadas no grupo II. Quanto ao ângulo Q direito e esquerdo, observa-se que o grupo II apresentou maior predisposição ao joelho valgo. No plano perfil direito, nota-se que as voluntárias do grupo II apresentaram maior anteriorização de cabeça e maior predisposição à retificação cervical e torácica e hiperlordose lombar se comparadas às voluntárias do grupo I. No grupo I, nota-se maior predisposição ao joelho hiperestendido e no grupo II, alinhamento dos joelhos. No plano posterior, o grupo II apresentou maior assimetria da linha espondiléia, enquanto o grupo I apresentou maior assimetria de escápulas.

    Araújo e Toniote (2015) revelam que a hiperlordose é uma das principais alterações posturais encontradas em bailarinas clássicas. A maioria dos movimentos de quadril é em constante rotação externa e retroversão pélvica no balé, e mesmo assim, encontra-se um menor índice de retificação lombar em comparação com a hiperlordose nos artigos encontrados. Em contrapartida com estes achados, no presente estudo pode-se observar uma diminuição da curvatura lombar e presença de assimetrias pélvicas nas bailarinas. De acordo com Bittencourt (2004), a bailarina clássica pode desenvolver uma possível retificação das curvas da coluna vertebral cervical e lombar, o que poderia provocar sintomas álgicos.

    O estudo de Feipel et al. (2004), sugeriu em seu estudo que, durante a execução dos movimentos do balé analisados, a movimentação do tronco é independente, sem grandes interações com o quadril, por meio de análise cinemática. Todos os bailarinos de seu estudo apresentavam queixas de dor e/ou ferimentos durante a prática de balé, sendo 43% dor na região lombar e 40% no quadril. Encontrou-se que as relações entre a postura e a coluna lombar não revelaram interações significativas, e então, pôde-se concluir que a flexibilidade do quadril, não estava relacionada com a coluna lombar no exercício analisado. Meereis (2013), destaca que dentre os fatores associados às queixas álgicas na coluna estão as rotações da coluna e a hiperlordose lombar adotada por muitos bailarinos. De acordo com esse autor, se há agravos musculoesqueléticos na coluna lombar também é importante se avaliar a articulação do quadril, pois uma mobilidade limitada no quadril pode gerar aumento da sobrecarga nos músculos da coluna lombar e vice-versa.

    Santoro (2012), em seu estudo ‘‘Intervenção do ballet clássico no tratamento da hiperlordose lombar: estudo de caso’’, a bailarina apresentou, na avaliação inicial, uma rotação da pelve, sendo o lado direito mais anteriorizado que o esquerdo e após a intervenção com o ballet clássico, houve melhora na simetria entre os lados, sugerindo que a prática do ballet promoveu correção da postura rotacional da pelve da aluna. A partir desses resultados, os referidos autores inferiram que a prática dessa modalidade, quando bem orientada, pode ser importante para diminuir alterações posturais pré-existentes e aumentar a qualidade de vida da bailarina, e que a intervenção precoce pode ser relevante para se adquirir bons resultados em programas que visam à correção da postura.

    Ainda Araújo e Toniote (2015) citam que após o índice de hiperlordose, aparece a hiperextensão de joelhos como uma relevante alteração postural. Segundo estes autores, isso se dá como justificativa pela presença de frouxidão ligamentar em bailarinas, o que está de acordo com o presente estudo.

    Meereis et al. (2011) avaliou tendências posturais de bailarinas que já praticavam balé há três anos nas escolas da cidade de Santa Maria e encontrou resultados como inclinação da cabeça para a direita (80%), ombro esquerdo mais elevado (80%), espinha ilíaca ântero-posterior esquerda mais elevada (70%). As bailarinas ainda se encontraram com joelhos valgos (70%) tornozelos valgos (70%), escápulas abduzidas (70%), anteversão pélvica (100%) joelho semiflexo (60%). Para Lima, Silva e Barreto (2014), o alongamento de peitoral menor e o fortalecimento de músculos abdominais não são contemplados devidamente durante a prática de ballet, o que pode causar desvios posturais. Segundo Aquino et al. (2010), as bailarinas utilizam os abdominais para produzir uma inclinação posterior da pelve e evitar hiperlordose.

Tabela 2. Probabilidades encontradas, na aplicação do teste U de Mann-Whitney aos resultados obtidos com as voluntárias dos Grupos I e II

    De acordo com os resultados demonstrados na tabela 2, foram encontradas diferenças, estatisticamente significantes, entre os valores dos ângulos quadricipitais, tanto direito quanto esquerdo, sendo que os valores mais elevados foram obtidos com as meninas praticantes de balé clássico. Desta forma, podemos inferir que as voluntárias do Grupo I (praticantes de balé clássico) tem uma predisposição a apresentar joelhos varos se comparado às voluntárias do Grupo II (sedentárias).

    Prati e Prati (2006), em seu estudo ‘‘Níveis de aptidão física e análise de tendências posturais em bailarinas clássicas’’, verificou-se que 70% das bailarinas apresentaram joelhos valgos, contrariamente às bailarinas analisadas por Simas e Melo (2000), as quais apresentaram joelhos varos.

    Foram encontradas, também, diferenças, estatisticamente significantes, entre os valores da curvatura cervical e da curvatura torácica, sendo que os valores mais elevados foram obtidos com as meninas sedentárias. Isto indica que as voluntárias do Grupo I (praticantes de balé clássico), apresentam diminuição dos graus analisados com predisposição a apresentar uma hipercifose torácica e hiperlordose cervical, comparado às voluntárias do Grupo II (sedentárias).

    Dorneles et al (2014) afirmam que a rotação de quadril entre bailarinas e não praticantes apresentou diferenças em seu estudo, o que pode ser um ponto fundamental e de propensão para a incidência de lesão no quadril. Eles compararam a rotação do quadril de 30 bailarinas clássicas com 30 indivíduos que não praticavam dança, com idades entre 14 e 18 anos. Foram encontradas diferenças estatisticamente significativas entre os grupos, indicando um aumento na rotação externa do quadril e uma diminuição na rotação interna nas bailarinas.

    Meira et al. (2011) afirmam que para reencontrar sua posição de equilíbrio, a bailarina tem que jogar para trás seu centro de gravidade, de forma a aumentar sua curva lordótica. Guimarães e Simas (2001), apontam que a praticante de balé clássico foca muito na extensão de tronco e isso fortalece paravertebrais e alonga abdominais. O fortalecimento da musculatura de abdômen, neste caso, fica restrito à manutenção da retroversão pélvica, levando a um desequilíbrio que favorece às alterações posturais.

    Para Prati e Prati (2006), as bailarinas apresentam alto percentual de alteração na coluna cervical, tanto para cifose quanto hiperlordose, o que está em consonância com o presente estudo, no qual as bailarinas apresentaram maior predisposição à hiperlordose cervical. Silva et al. (2013), em seu estudo ressaltam que na região da coluna cervical, observada em vista lateral, 100% das bailarinas apresentam retificação. No estudo de Simas e Melo (2000) as bailarinas apresentaram-se com um grande número de alterações, sendo que 80% delas apresentaram hiperlordose lombar, 72% tronco inclinado para trás e 62% cifose cervical. Quanto aos desvios da coluna lombar, Meira et al. (2011), indicam uma posição de hiperlordose na maioria das bailarinas, variando entre 80% a 91,30%. Estes defendem que certos movimentos do balé necessitam de um arqueamento da coluna vertebral para sua execução, e quando realizados de forma repetitiva geram efeitos na região lombar. Em contrapartida com estes achados, no presente estudo pode-se observar uma diminuição da curvatura lombar e presença de assimetrias pélvicas nas bailarinas.

    De acordo com Ribeiro et al. (2016), os desvios posturais no plano coronal tendem a ser compensados ​​para manter a verticalidade. Dessa forma, o tronco sofre compensações estáticas, de forma que um desequilíbrio na região cervico-cefálica poderá causar um mal alinhamento na cintura escapular.

    Na tabela 3, observa-se que não houve diferenças estatisticamente significantes, entre os valores das variáveis analisadas, de acordo com a idade dos dois grupos analisados. Observa-se que não houve diferenças elevadas, nas variáveis de ângulos quadricipitais, coluna torácica, linha espondiléa, devido às baixas frequências encontradas e por isso, não foi possível a aplicação do teste U de Mann-Whitney. Deste modo, a faixa etária em que houve uma maior prevalência de alterações posturais esteve presente em média em meninas de 13 anos em ambos os grupos.

Tabela 3. Probabilidades encontradas, com aplicação do teste U de Mann-Whitney às idades das crianças 

dos grupos de meninas praticantes de balé clássico e meninas sedentárias que apresentaram alterações posturais

Conclusão

    Mediante a análise dos resultados obtidos no presente estudo, observou-se a presença de alterações posturais em ambos os grupos, entretanto, esses desalinhamentos encontrados foram mais suaves no grupo das bailarinas. Apesar disso, verificou-se que houve relevância estatística entre os grupos somente em relação ao aumento das curvaturas cervical (hiperlordose cervical), torácica (hipercifose torácica) e predisposição a joelhos varos no grupo de bailarinas. Dessa forma, não se pode afirmar que as bailarinas apresentam alterações posturais relevantes se comparadas às sedentárias, pois estes 3 ângulos analisados por si só, não configuram alterações significantes.

    Sendo assim, sugere-se que outros estudos, com um número maior da amostra e diferentes metodologias sejam realizados, a fim de estabelecer diferenças estatísticas entre os dois grupos analisados.

Bibliografia

  • Araújo, A. G. S.; y Toniote, G. (2015) Principais alterações posturais encontradas em bailarinas clássicas - uma revisão. Cinergis, v.16, n.3,p. 228-230.

  • Aquino, C. F.; Cardoso, V. A.; Machado, N. M.; Franklin, J.S.; y Augusto, V. G. (2010). Análise da relação entre dor lombar e desequilíbrio de força muscular em bailarinas. Fisioter. v.23, n.3, p.309-408.

  • Baecke, J. A. H.; Burema, J.; y Frijters E. R. (1982). Um breve questionário para a medição da física habitual em estudos epidemiológicos. Am J Clin Nutr, v.36, n.5, p. 936-942.

  • Bittencourt, P.F. (2004). Aspectos posturais e álgicos de bailarinas clássicas. 2004. Tese de Doutorado. Universidade Federal do Rio Grande Do Sul. Porto Alegre.

  • Dorneles, P.P.; Pranke, G.I.; Lemos, L.F.C.; Teixeira, C.S.; y Mota, C.B. (2014). Análise biomecânica relacionada a lesões no balé clássico. Revista Mackenzie de Educação Física e Esporte. São Paulo, v.13, n.2, p.26-42, 2014.

  • Feipel, V.; Dalene, S.; Dugailly, P. M.; Salvia, P.; y Rooze, M.(2004). Kinematics of the lumbar spine during classic ballet postures. Medical Problems of Performing Artists, v. 19, p. 174-180.

  • Fração, V.; Vaz, M. A.; Ragasson, C.A. P.; y Muller, J.P. (1999). Efeito do treinamento na aptidão física da bailarina clássica. Revista Movimento, Taguatinga, DF, v. 5, n.11, p. 13-15.

  • Guimarães, A. C. A.; y Simas, J. P. N. (2001). Lesões no Ballet Clássico. Revista da Educação Física/ UEM. Maringá, v. 12, n. 2, p. 89-96.

  • Lima, A. K.; Silva, P.H.B.; y Barreto, R. R. (2014). Características das lesões em bailarinos e sua relação com a qualidade de vida. Revista Movimenta, v. 7, n. 1, p.1984-4298.

  • Meereis, E. C. W.; Favretto, C.; Bernardi, C. L.; Peroni, A. B. F.; y Mota, C. B. (2011). Análise de tendências posturais em praticantes de balé clássico. Revista da Educação Física/UEM. Maringá, v. 22, n. 1, p. 27-35.

  • Meereis, E. C. W.; Teixeira, C.S.; Pranke, G.I.; Lemos, L.F.C.; y Mota, C.B. (2013). Sintomatologia dolorosa em bailarinos: uma revisão. Revista Brasileira de Ciência e Movimento, v. 21, n. 2, p. 143-150.

  • Meira, G.A. J.; Gonçalves, L.S.; Baptista A. F.; Mendes, S.M. D.; y Ribas, S. K. N. (2011). Perfil postural de bailarinas clássicas: análise computadorizada. Revista Pesquisa em Fisioterapia (RPF), Salvador, v.1, n.1, p.19-28.

  • Picon, A. P.; Costa, P. H. L.; Sousa, F.; Sacco, I. C. N.; y Amadio, A.C. (2002). A biomecânica e “balé” clássico: Uma avaliação de grandezas dinâmicas do “sauté” em primeira posição e da posição “en pointe” em sapatilhas de pontas. Revista Paulista de Educação Física, São Paulo, v. 16, n.1, p.53-60.

  • Picon, A. P.; y Franchi, S. S. (2007). Análise antropométrica dos pés de praticantes de balé clássico que utilizam sapatilha de ponta. Rev. UNIARA, São Paulo, n.20, v.6, p.177-188.

  • Prati, S.R. A.; Prati, A.R.C. (2006). Níveis De Aptidão Física e Análise de Tendências Posturais em Bailarinas Clássicas. Centro Universitário de Maringá e Colégio Santa Cruz. Revista Brasileira de Cineantropometria e Desempenho Humano, Maringá, v.1, n.8, p. 80-87.

  • Ribeiro, J. N.; Moura, U. I. S.; Mendes, L. R.; Antonelli, B. A.; Schwingel, P. A.; y Angelo, R. C. O. (2016). Postural profile of classical ballerinas from the vale do São Francisco region of Brazil. Coluna/Columna. São Paulo, v. 15, n. 3, p. 199-204.

  • Santoro, S.F.C. (2012). Intervenção do ballet clássico no tratamento da hiperlordose lombar: estudo de caso. In: Anais do II Congresso Nacional de Pesquisadores em Dança – Anda Comitê Interfaces da Dança e Estados do Corpo. São Paulo, julho.

  • Silva, A.F.; Dellinghausen, C. M.; Avila. F. S.; Souza. L. F.; Daronco, L. S.E.; Peixe, L. A.; et al. (2013). Desvios posturais, índices de dor e resistência muscular localizada abdominal em bailarinas de jazz. Biomotriz-Revista Científica da Universidade de Cruz Alta, Rio Grande do Sul, v. 7, n. 1.

  • Simas, J. P. N.; y Melo, S. I. L. (2000). Padrão postural de bailarinas clássicas. Rev. Educação Física. Maringá, v.11, n.1, p.51-57.

Outros artigos em Portugués

www.efdeportes.com/

EFDeportes.com, Revista Digital · Año 22 · N° 227 | Buenos Aires, Abril de 2017
Lecturas: Educación Física y Deportes - ISSN 1514-3465 - © 1997-2017 Derechos reservados